sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cálice




Aqui em casa, pelo menos umas cinco vezes por semana, minha mãe sempre faz uma faxininha. É uma poeirinha que ela tira aqui, um paninho que ela passa ali, mas é claro que existe a faxina MOR! Exatamente. Um dia especial é escolhido pra big arrumação. Isso me preocupa um pouco porque quase sempre eu sei que alguma coisa minha vai sumir. Sou a pior das bagunceiras, assumo, mas sou consciente de onde deixo as coisas. Enfim isso não vem ao caso. O fato é que quase sempre é ao som de uma musica bem alta que ela se dá. A matriarca é bem alegre. Sim ela coloca quase sempre Ivete Sangalo. Algumas horas de concentração nos estudos sempre são perdidas, tudo por causa da “poeira, poeira”.

Na quarta feira foi diferente. Estava eu no quarto adiantando alguns estudos antes do som começar e da bagunça se arrumar, quando escuto um “estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar cantando coisas de amor...” Oh! Claridade na escuridão. Longe de mim dizer que Ivete não é bacana de ouvir, mas é que sempre, fica um pouco cansativo. Não sei porque, mas aquilo me deixou mais empolgada nas leituras. Quando escuto Chico Buarque eu me sinto inteligente, culta e tenho uma louca vontade de estudar história do Brasil. Lembrei das ditaduras e da sagacidade do nosso artista com as palavras só de ouvir um “Pai! Afasta de mim esse cálice”.

É até clichê dizer que Chico Buarque é genial, mas hoje em dia tudo é clichê. Até tentar não ser clichê é clichê. Dizemos que fugimos das mesmices, mas quando nos damos conta lá estamos nós fazendo as mesmas coisas na mesma rotina de sempre. O pior não é isso, mas sim quando ver alguém fazendo algo diferente dizer: “é um maluco!” “ É um desocupado...”
As pessoas estão a cada dia mais forçadas. Nos sentimentos, nas ações. O “eu te amo” virou bom dia dito a qualquer um que passa. Nem preciso citar as novelas da Globo, nas quais no final o fulaninho malvado morre e o casal principal termina junto sorrindo tomando Molico num apartamento em frente a praia. O que mais espanta é que a maioria das pessoas já tinha lido aquilo uma semana antes nas revistas de resumo das novelas, e já viram aquele final centenas de vezes em outras novelas, mas ainda mesmo assim telespectadores se encantam e acham o desfecho totalmente imprevisível.


O que quero dizer é que por muitas vezes toda essa mesmice inibe a nossa criatividade. Sim. O medo de sermos censurados, por não sermos previsíveis. Não a censura da época do Chico, na qual se corria risco de morrer. A censura imposta pelos clichês da sociedade. A morte é da nossa vontade de mudar. Uma roupa diferente que seja bacana pra você pode causar incomodo em muitos outros, que através de olhares e risinhos vão rejeitar o que vêem. Não que se deva ligar para opiniões alheias, a vida é sua. Mas percebe quanto que o inovador ou o diferente causa reação de incomodo nas pessoas? E provavelmente o próximo passo é o preconceito, manifestados nos mínimos detalhes. A vida é feita de detalhes. Nem sequer tentar entender porque aquilo é diferente. Causou desconforto, é melhor pensar ser coisa de maluco e normal é quem continua a ser igualzinho, seguindo sempre a rotina, os padrões.

Segundo o Wikipédia:
Censura é o uso pelo estado ou grupo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte. O propósito da censura está na manutenção do status quo, evitando alterações de pensamento num determinado grupo e a consequente vontade de mudança.

“Pai! Afasta de mim esse cálice”.

Não tenho uma boa conclusão pra esse assunto. Vai ser sempre uma reflexão contínua na minha cabeça. Mas uma coisa eu sei que é garantia: Alterações de pensamento vão estar sempre ocorrendo. Seja na minha cabeça, seja na cabeça de qualquer um. Nenhuma censura se sustenta. Nem as que aceitamos que existam. Nem as que nós nos impomos. Nem as que nós rejeitamos. Porque o progresso é inevitável. Nem todos os botões de flores se abrem na primavera, mas todos eles um dia abrem.

Um comentário:

  1. É,por falta de algo após "Uma outra galáxia" estou lendo de trás para frente esses textos o que está fazendo eu me tornar um viciado e por serem tão bons,já estou preocupado pois o estoque está acabando.
    Apesar que isso demonstra que livros antigos devem ser tão lidos quanto livros novos.
    Eu também morro de medo das faxinas aqui em casa,pois sempre some alguma coisa...
    E para terminar,mesmo quando eu era totalmente radical musicalmente falando,a ponto de praticamente só ouvir rock and roll e praticamente defenestrar com todos os outroa gêneros,principalmente picaretas nacionais,o Chico era uma excessão,e me fascinava com suas letras e principalmente com ele cantando as suas próprias músicas(coisa que a maioria abomina). Tanto é que até hoje,considero "Construção" como a melhos música BR de todos os tempos e que quando O Renato Russo lançou "Eduardo e Mônica", eu a considerei uma nova Construção.
    E para finalizar mesmo : Queremos mais...

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