quarta-feira, 10 de junho de 2009
prevendo o presente
Na minha transição da infância para a adolescência, a freqüência que eu arrumava o meu armário era de quase zero rpm (repetições por milênio). Imaginem vocês aqueles armários de filmes e seriados americanos, os quais ao abrir a porta uma montanha de coisas vinha a baixo. Era mais ou menos isso. Mas assim como os pokemóns assistidos nos desenhos naquela época, eu também evoluí. Hoje uso os cabides e ainda dobro as roupas nas gavetas. A freqüência passou pra pelo menos dois rpm (repetições por mês). Pasmem. Ainda vejo uma lagriminha e um brilho de emoção nos olhos da mamãe quando ela diz “vai arrumar o armário, filha?”.
É engraçada a fase dos 12 anos. No meu dicionário PRÉ-adolescência quer dizer PREtexto para fazer coisas de adulto, mas continuar isento das responsabilidades como as crianças. Em meio a frases maduras do tipo “Ei, me respeite, já sou pré- adolescente” e revistas coloridas e caras que falavam sobre “grandes” ícones mundiais como Avril Lavigne, eu, inventei de seguir um conselho que li numa dessas revistas: A caixinha das recordações. Então desde 2003 tenho essa caixa, na qual encontram-se desde fotos até ingressos de cinema de todos os filmes que vi. Medalhas, cartas, pulseiras arrebentadas e até a embalagem do meu primeiro celular.
Os anos passam e o poço de nostalgia continua lá no fundo do meu armário. Dia desses, fazendo uma poderosa arrumação, daquelas quase chegando em Nárnia, resolvi pegá-lo para ter meus idolatrados momentos saudosistas, só pra variar. Papel cá, papel lá e o que eu encontro? Um vale transporte no valor de um real e quarenta centavos. Na mesma hora lembrei do preço atual da passagem. Naquela época estava bem longe de ser uma expert em economia, até hoje por sinal, mas lembro que quando guardei esse vale tinha pensado “vou guardar esse vale pra um dia eu lembrar o quão mais barato era a passagem”. Um pouco depois, acho que no mesmo ano, a passagem foi para um real e sessenta centavos. Até que a minha previsão estava certa. Semana passada meu riocard foi cancelado como o de muitos outros estudantes, venho sentindo no bolso o absurdo do preço da passagem e realmente sentindo falta desses oitenta centavos a mais que teria se ainda pudesse usar vales como este.
Isso porque são ônibus comuns, cheios, com motoristas e trocadores mal humorados. Nos mais bonitinhos com ar condicionado além da passagem ser mais cara, eles não aceitam o valioso riocard. “Desce, menina, estudante não pode nesse não, espera outro...”. Ou seja, agora além de ser excluída da gratuidade do trem sou excluída da gratuidade do ônibus também. Não gostaria de voltar a época dos meus 12 anos não. Sou feliz hoje em dia com todo o conhecimento que adquiri e com meu amadurecimento também, mas se as passagens pudessem voltar a ser como eram naquela época com certeza eu não guardaria nenhum vale, e sim aproveitaria todos. Pensem comigo: pagando 4 e 40 por dia para ir e voltar da escola me faz gastar no final de cinco dias 22 reais. Se fosse 2 e 80 por dia no final da semana eu teria gastado 14 reais. Uma economia de 8 reais! Pode parecer pão durisse pra alguns, mas imagina se contarmos todos os outros aumentos seja de passagem, pão e até mesmo roupas? Por enquanto o que me resta é continuar estudando, ou pelo menos tentando. Mas acho que vou guardar os vales de 2 e 20, pra um dia eu lembrar o quão mais barata era a passagem...
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Cancelaram seu riocard????????
ResponderExcluirO meu tá firme e forte, aliás o meu foi o único que ainda não cancelaram das pessoas que conheço. No dia que cancelarem, FODEU DE VEZ!
Pego dois ônibus pra faculdade e dois pra voltar. Esse lance da passagem eh um saco, pq só aumenta. Nunca diminui, ora pelo aumento da gasolina, ora pela crise mundial. Bem, a tendencia eh piorar. Então se hj estiver reclamando, daqui a 20 anos quando tiver seus filhos (ou não, sei lá...) vc pode sempre falar para eles "no meu tempo a passagem era 2,20 e era Reais ainda. Nossa como o tempo passa". Exatamente como meu pai faz.
Suas frequências de arrumação em rpm foram fantásticas! Assim como quase chegou à Nárnia arrumando seu armário. :D
ResponderExcluirMuito legal te ler, Ingrid!
Só toma cuidado para não entrar em depressão com a sua caixinha-nostalgia. O tempo passa depressa e ela (a caixa), em breve, vai ficar pequena.
Nada melhor do que o presente para se viver. Sei que vc sabe disso mas tome cuidado para não se esquecer jamais!
Grande beijo
Guardo cartas, de resto já fico feliz se me guardarem.
ResponderExcluirUm dia achei um bilhete que você escreveu pra mim, lá daquela época dos 10 anos, mas perdi, um dia ele me encontra de novo.
Beijos...
Pelo amor de Deus,Gingy! Essa passagem não pode aumentar mais! Simplesmente não pode!Reze para a sua previsão falhar. Achei muito engraçado e maneiro seu texto Gingy! Postei novidades no meu,fnalmente!Da uma olhada depois. Eu tbm tinha mania de guardar uma porrada de coisas,mas quando eu arrumo o meu armário é quase com uma sessão "descarrego". Jogo TUDO fora! Provas antigas,cadernos,folhas... Fico só com o essencial pra sobreviver durante o ano. As lembranças ficam nos álbuns de fotos e na memória. Se eu tiver Alzheimer, vou me danar hhahahahaha.
ResponderExcluirP.S: Aquela de Nárnia,me fez gargalhar.
Te adoro e estou com saudades.
Ingrind!!
ResponderExcluirFicou muito bacana o texto!!
Adorei ler.
E me indentifiquei muito...Principalmente a parte da caixinha de recordações...=]
muito legal o jeito de começar falando de uma coisa boba, o negócio de arrumar o armário que levou a parada da passagem!!
demais. você leva jeito hein...
Tõ me surpreendendo.
beijos!
Já dizia um grande cantor e compositor (?):"Nada do que foi será , de novo,do jeito que já foi um dia.." Lulu Santos
ResponderExcluirFrase essa que pode ser aplicada em vários sentidos.. =/
Belo blog! de leitura gostosa,parabéns (novamente!)
beijo!